quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Lenda - João-de-Barro




Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo:
apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou:

- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?

- As provas do meu amor! - respondeu o jovem.

O velho gostou da resposta mas achou o jovem atrevido. Então disse:

- O último pretendente de minha fila falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.

- Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.

Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova.

Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai:

- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.

O velho respondeu:

- Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.

E esperou até até a última hora do novo dia. Então ordenou:

- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.

Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!

E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um
pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre

Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.

A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.




















Somente depois da última árvore derrubada,
depois do último animal extinto,
e quando perceberem o último rio poluído, sem peixe,
O Homem irá ver que dinheiro não se come!

(Provérbio Indígena)

João-de-barro























É admirável a habilidade com que esta ave constrói a sua casa nos postes, nas traves das porteiras ou nos galhos de árvores desnudas. O ninho consiste em uma bola de barro, dividida em dois compartimentos. A porta, que permite ao pássaro entrar sem se abaixar, impede que o vento atinja o interior, pois é sempre voltada para o norte. Macho e fêmea ocupam-se ativamente da construção, transportando grandes bolas de barro que são amassadas com os bicos e com os pés. No compartimento maior, forrado com musgo, cabelos e penas, a fêmea deposita de 3 a 4 ovos brancos, três vezes ao ano.

O joão-de-barro é pouco menor que um sabiá, porém mais delgado. Sua cor é cor de terra, com a garganta branca e a cauda avermelhada. É uma ave alegre que gosta de conviver com o homem. Vivem em casais e passam os dias a gritar em curiosos duetos.

MITO DA FLORESTA

O João de Barro é tido como passarinho trabalhador e inteligente. Seu canto parece uma gargalhada (no Sul dizem que, quando ele canta, é sinal de bom tempo) e é amigo de todos, lutando para salvar seu ninho, sua casa. Um dia, conta-se, brigou com Tapera (andorinha), que chegou a dominá-lo e despejou-o do ninho ainda em construção. A fêmea, conhecida como "Joaninha-de-barro" ou "Maria-de-Barro", ajuda na construção do ninho, mas parece não ser constante, abandonando o macho. O João-de-Barro é fiel até o fim e, por isso, quando percebe que a esposa mudou de amor, tampa a abertura da casa, fechando-a para sempre.

Bem-te-vi


Autor: Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Bem-te-vi que bom te ver!
Vim aqui pra te encontrar...
Pouse no meu pé de Ipê,
Quero ouvir o seu cantar.


Vê se vês a minha amada,
Que há muito já se foi,
Partindo de madrugada
No velho carro-de-boi!


Não me deixes tão sozinho
Chorando a minha dor!
Canta, canta, passarinho,
Traze ela pro meu ninho,
Quero fartar-me de amor!


Dar-te-ei de recompensa
Água fresca e alpiste...
Sem ela o mundo não existe,
Minha tristeza é imensa!


E quando ela voltar,
Atendendo ao teu canto,
Vou secar todo meu pranto
E sorrir com teu cantar...

Cambaxirra


















A cambaxirra (Troglodytes aedon), também conhecida por corruíra, é parente do famoso uirapuru, considerado por muitos como a ave brasileira que tem o canto mais bonito, e como este, também é grande cantadora.

Medindo cerca de 11 centímetros, alimenta-se de pequenos insetos que procura entre a folhagem baixa e em todo lugarzinho escondido nos cantos dos jardins e sua aparência frágil engana, pois um casal com três filhotes é capaz de comer perto de quinhentos insetos por dia.

Pardalzinho































O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!

Manuel Bandeira

Sabiá


Canta, sabiá, teu canto,
Canta só pra me encantar,
Solta essa voz maviosa,
Tão linda e maravilhosa,
Que tem forma de encanto
E abafa qualquer pranto
De quem te ouve cantar...


Canta este céu todo azul,
A brisa leve a correr,
A vontade de viver,
O desejo de amar.
Canta, meu sabiá, canta
Teu canto quero escutar!

E canta para os sofridos,
Nossos irmãos rejeitados,
Cante em bemol, sustenido,
Em ré, sol, lá, si ou dó...
Eu te faço esse pedido.
Que ele seja atendido
Mesmo numa nota só!


Mostra ao mundo violento
Esse dom que DEUS te deu...
Pois quem sabe, num momento,
Tu tocas o sentimento
De toda humanidade
Nela desperte a vontade
De ouvir o canto teu!



Canta, canta, sabiá,
Pois quero ouvir teu cantar,
Canta pra mim a lembrança,
Dos meus tempos de criança,
Que não consigo apagar.

Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Bem-te-vi





























O bem-te-vi é talvez o pássaro mais popular deste país. É conhecido em toda parte por seu canto, pelo anúnicio frequente de seu nome e por sua coloração amarela viva na barriga, garganta e alto da cabeça. Tem uma listra branca que circunda inteiramente a cabeça e seu bico é forte.

Pode ser encontrado em uma enorme variedade de habitats, como campos de cultura, cidade, pomares, orla de mates e em ambientes aquáticos, tais como margens de lagoas, córregos, e rios, onde tem aprendido a capturar peixes que são acrescentados a sua dieta de insetos, anfíbios, etc.

Constrói um ninho esférico, com entrada lateral na parte superior, na forquilha de um galho, sendo bem cuidado e feito de diversos vegetais secos. A postura consta, em geral, de quatro ovos brancos e alongados. É social e vive em pequenos grupos. O barulhento bem -te-vi é comum em todas as regiões brasileiras.


O Bem-te-vi se alimenta de insetos mas também não dispensa frutas e flores de um jardim. Ovos de outros passarinhos, minhocas e até outros bichos, como a cobra, também fazem parte do cardápio deste pássaro. Mede 23 cm, em média.

O seu nome popular é onomatopaico, ou seja, ele emite um chamado, no mínimo, curioso, dando a impressão de cantar o próprio nome "bem-te-vi, bem-te-vi" . Seu canto pode ser ouvido durante o ano todo, quase todos os dias.

Gosta de chamar a atenção cantando e se empuleirando nas antenas das casas e nos telhados. Enquanto ele canta, todos os outros pássaros ficam em silêncio. Costuma capturar peixinhos na beira dos rios e lagos de pouca profundidade e banhar-se nos tanques e chafarizes das praças.

O ninho do Bem-te-vi fica em lugar visível e é feito de todos os tipos de plantas, freqüentemente com capim. Este pássaro defende o seu ninho vigorosamente e se alguma outra ave chegar por perto, ele será agressivo e briguento.

O Bem-te-vi habita regiões mais abertas, do estado americano Texas até a Argentina. Isto facilitou a sua adaptação a ambientes urbanos e desmatados.


Passarinhos

















No fio grosso,
um molho de fios,
passarinhos pousam
e cantam de manhãzinha.


São fios do telefone,
vão levar recados pra alguém,
trazer recados pra mim.


Mas o canto fica,
— trinados de alegria
que vêm com o sol do dia.


Cleonice Rainho