quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O Voo mítico dos pássaros



Nos livros sagrados de árabes, persas, hindus ou judeus, os pássaros aparecem com os mais diferentes significados. No Corão, muitas vezes são tomados como sinônimos de "destino": "No pescoço de cada homem atamos seu pássaro" - está escrito. A obra célebre de Farid ud-Din Attar, A línguagem dos pássaros, indica que o Rei Salomão conhecia profundamente esta linguagem, percebendo no mítico pássaro Simorg um portador da Sabedoria. O Rig-Veda diz que "a inteligência é o mais rápido dos pássaros". A pomba surge nos Salmos (Velho Testamento da Bíblia), como símbolo de libertação da alma: "Tivera eu asas como a pomba e voaria e procuraria um pouso". Ainda no Velho Testamento, a pomba e o corvo exercem tarefa decisiva para os católicos após o dilúvio: "No fim de quarenta dias, Noé soltou o corvo, que foi e voltou, esperando que as águas secassem sobre a terra". Passado algum tempo, Noé solta uma pomba que retorna com um ramo de oliveira no bico. Novamente livre alguns dias depois, a pomba voa e não retorna mais, indicando que as águas haviam secado.

Os relatos míticos das mais diversas culturas estão igualmente povoados de seres híbridos (metade ave, metade humano) e de pássaros fantásticos, curiosos e portadores de poderes inimagináveis. Um dos mais lendários é a Fênix, de origem etíope, segundo Heródoto, mas também presente entre os chineses. Dotada de extraordinária longevidade, a Fênix tem o poder de renascer das cinzas, após se consumir no fogo de seu próprio ninho, construído com vergônteas perfumadas. No Livro dos Seres Imaginários, o escritor argentino Jorge Luis Borges registra a recorrência de várias criaturas misteriosas e entidades aladas, como as Harpias (aves com cara de donzela, "pálidas de uma fome que não podem saciar"), o Pássaro Roca (gigantesco parente da águia ou do abutre, que alimenta seus filhotes com elefantes), o Goofus Bird ("que voa para trás, porque não lhe importa onde vai, mas sim onde esteve") e o Shang Yang (que traz a chuva para os agricultores chineses, "pois bebe a água dos rios e a deixa cair sobre a terra").


Ademir Assunção

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