segunda-feira, 30 de julho de 2012



Olhando a extrema beleza dos pássaros amarelos calculo o que seria se eu perdesse totalmente o medo. O conforto da prisão burguesa tantas vezes me bate no rosto. E, antes de aprender a ser livre, tudo eu aguentava - só para não ser livre.
Clarice Lispector


nos fios
os pássaros
escrevem música


Eugénia Tabosa


Flauta,
cascata de pássaros
entornando cantos úmidos.


Yeda Prates Bernis


Brisa de outono
Como flechas de sombras
Os pássaros voltam.
Jorge Lescano


pássaros cantando
no escuro
chuvoso amanhecer
Jack Kerouac

Procura-se




A aurora desperta pelo azul do mar,
A quietude outonal que rasga o dia,
a vida que ressurge rara após noite escura.
Procura-se
a esperança que saiu voando sem rumo,
uma alma alada como pássaro,
que desapareceu entre o céu e o mar.
Procura-se
sonhos pássaros perdidos na névoa tardia,
ventos leves, leves como o pensamento.
Procura-se
uma chance, uma sorte, uma nova saída,
uma ilha, um pouco de paisagem,
um verso capaz de descrever o instante.


Sônia Schmorantz


Quietude -
O barulho do pássaro
Pisando as folhas secas.
Ryushi

sábado, 28 de julho de 2012



Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando.
Manoel de Barros

sábado, 7 de julho de 2012

Rouxinol



Um pássaro também canta sutras de salvação
enchendo a floresta de músicas maravilhosas:
as flores da árvore são como bodisattvas
à volta de um pequeno pássaro Buda.

(Ikkyu Sojun)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cantilena



Cortaram as asas
ao rouxinol
Rouxinol sem asas
não pode voar.
Quebraram-te o bico,
rouxinol!
Rouxinol sem bico
não pode cantar.
Que ao menos a Noite
ninguém, rouxinol!,
ta queira roubar.
Rouxinol sem Noite
não pode viver.


Sebastião da Gama

O Homem e A Mulher



O homem é a mais elevada das criaturas;
A mulher é o mais sublime dos ideais.
O homem é o cérebro;
A mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz;
O coração, o AMOR.
A luz fecunda, o amor ressuscita.
O homem é forte pela razão;
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence, as lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos;
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece, o martírio sublima.
O homem é um código;
A mulher é um evangelho.
O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.
O homem é um templo; a mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos;
Ante o sacrário nos ajoelhamos.
O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter , no crânio, uma larva;
Sonhar é ter , na fronte, uma auréola.
O homem é um oceano; a mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que adorna;
O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa;
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço;
Cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra;
A mulher, onde começa o céu.


Victor Hugo

Alma perdida




Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...
Florbela Espanca


O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Carlos Drumond de Andrade

terça-feira, 3 de julho de 2012

Voar




Deve ser bom voar! Abrir as asas,
fechar os olhos e partir sem rumo,
pairar sobre as cidades, sobre as casas,
como pássaro, estrelas, nuvem, fumo...

Deve ser bom voar! Erguer os braços
e acima dos telhados e dos ninhos,
esquecer os sinais de inúteis passos,
fugir ao pó de todos os caminhos...

Mas onde as asas para assim voar,
para subir às nuvens e às estrelas?
As dos homens, são asas de matar...
...e as dos anjos, quem pode pretendê-las ?



Fernanda de Castro-Portugal

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O coração




O Coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um -- tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.


O outro -- voa em mais virentes balças,
Pousa de um riso na rubente flor.
Vive do mel -- a que se chama -- crenças -- ,
Vive do aroma -- que se diz -- amor. --



Castro Alves

Ouvi dizer



Existe um lugar
- um passarinho me contou -
onde os seres habitam
impunemente felizes
suas tocas, suas casas.
Seria em que floresta,
em que memória encantada
em qual inaudito planeta,
ou esfera mais abençoada ?
-Em que lugar,
diz-me pássaro escuso,
preciso saber,
para que eu junte no bico
minhas imprescindíveis ervas,
minhas malas
e, como tu,
eu me adeque aos ventos,
e bata definitivamente as asas.


(Fernando Campanella)

As penas do amor




Sobre os telhados a algazarra dos pardais,
Redonda e cheia a lua - e céu de mil estrelas,
E as folhas sempre a murmurar seus recitais,
Haviam esquecido o mundo e suas mazelas.

Então chegaram teus soturnos lábios rosas,
E junto a eles todas lágrimas da terra,
E o drama dos navios em águas tempestuosas
E o drama dos milhares de anos que ela encerra.

E agora, no telhado a guerra dos pardais,
A lua pálida, e no céu brancas estrelas,
De inquietas folhas, cantilenas sempre iguais,
Estão tremendo - sob o mundo e suas mazelas.


William Butler Yeats









O céu azul sobre o telhado
repousa em calma.
Uma árvore sobre o telhado
balança a palma.




A voz de um sino mansamente
ressoa no ar.
Um passarinho mansamente
põe-se a cantar.



Meu Deus, meu Deus, esta é que é a vida
simples, tranqüila,
como o rumor suave de vida
que vem da vila.



-Tu que aí choras, que é que fizeste,
dize, em verdade,
tu que aí choras, que é que fizeste
da mocidade?



Paul Verlaine
Trad -Onestaldo de Pennafort

Em surdina




Calmo, na paz que difunde
a sombra dos altos ramos,
que o nosso amor se aprofunde
neste silêncios em que estamos.



Coração, alma e sentidos
se confundam com estes ais
que exalam, enlanguescidos,
medronheiros e pinhais.



Fecha os olhos mansamente
e cruza as mãos sobre o seio.
Do teu coração dolente
afasta qualquer anseio.



Deixemo-nos enlevar
ao embalo desta brisa
que a teus pés, doce, a arrulhar,
a relva crestada frisa.



E quando a noite sombria
dos carvalhos for baixando,
o rouxinol a agonia
da nossa alma irá cantando.


Paul Verlaine


Era um pássaro triste.
Andorinha exaurida,
A viajar para longe.
Em suas asas tremia
Um prenúncio de morte.

A árvore acenou da distância
Um fraterno chamado.

Repousou a andorinha
E sonhou longamente,
Acordada.
E foi, aquele sonho, a vida.

Helena Kolody




No jardim do recolhimento
Versos são também pássaros
que às vezes vêm bicar
minha tímida solidão
povoada.

Fernando Campanella