terça-feira, 16 de outubro de 2012

O pássaro cativo





Armas, num galho de árvore, o alçapão.
E, em breve, uma avezinha descuidada, batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada, a gaiola dourada.

Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo.

Por que é que, tendo tudo, há de ficar o passarinho

mudo, arrepiado e triste, sem cantar?

É que, criança, os pássaros não falam.

Só gorgeando a sua dor exalam, sem que os homens os possam entender.
Se os pássaros falassem,
talvez os teus ouvidos escutassem este cativo pássaro dizer:

"Não quero o teu alpiste!


Gosto mais do alimento que procuro na mata livre em que a voar me viste.

Tenho água fresca num recanto escuro.

Da selva em que nasci; da mata entre os verdores,

tenho frutos e flores, sem precisar de ti!

Não quero a tua esplêndida gaiola!

Pois nenhuma riqueza me consola de haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde, construído de folhas secas, plácido, e escondido.

Entre os galhos das árvores amigas...

Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?

Quero saudar as pompas do arrebol!

Quero, ao cair da tarde, entoar minhas tristíssimas cantigas!

Por que me prendes? Solta-me, covarde!

Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...

Quero voar! Voar!..."


Estas coisas o pássaro diria, se pudesse falar.

E a tua alma, criança, tremeria, vendo tanta aflição.
E a tua mão, tremendo, lhe abriria a porta da prisão... 


 Olavo Bilac

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